As circunstâncias do quotidiano oferecem-nos quase sempre, motivos para reflexão. É o caso do presente texto.
Por: José Carlos Nunes Dias
Portugal
A vida humana (não a vida biológica) é a vida construída que se faz todos os dias. É uma tarefa. Ao contrário dos Animais, os instintos do Homem, são muito limitados mas em contrapartida, têm a faculdade da imaginação, o poder mental de descobrir horizontes, a capacidade de projectar o seu percurso e de se projectar, segundo Sartre,” a sua liberdade é incondicional e ele pode mudar o seu projecto original e inicial a qualquer momento.”
Quem é homem provém de educação, de formação, de cultura, de hábitos, de usos e costumes em que cresceu e se desenvolveu. Ora se um homem, for desprovido de um sistema de instintos, que regule a sua actuação pode decidir em cada momento da sua vida da acção, o que fazer. Com efeito, ao deparar-se com as múltiplas contingências, tem que optar. A opção é um acto livre.
Citando, Jean Paule Sartre “homem ser livre” poderá renunciar à sua liberdade? Obviamente que não. Vejamos: se me predisponho a aceitar ou a fazer o que determinada pessoa, ou grupo, me impões, não estarei a hipotecar a minha liberdade? É evidente que não, uma vez que decido tal predisposição.
É um acto inquestionável da minha liberdade de que não posso renunciar, A liberdade é irrenunciável. Este meu pensamento parece confuso? Na minha opinião não é confuso. Como por exemplo: na minha vida profissional, a minha empresa decide que eu mude de localidade geográfica. Eu posso recusar e se tomar essa atitude pratico um acto de liberdade, mas isso pode custar-me o emprego.Imaginemos outra situação, por algum motivo não poderei extravasar os meus sentimentos. Estou a fazer um acto contra natura, estarei a prejudicar a minha liberdade, mas por outro lado essa liberdade pode contribuir para uma ruptura. Poderia referir tantas situações, em que poderia ter a minha liberdade e não o posso fazer, seria fastidioso para quem lesse este texto.
Como podem constatar, nos exemplos que referi e segundo Sartre o “ Homem é sempre livre”. A qualquer momento Ele pode renunciar o conforto de um bom emprego, assumir os seus sentimentos perante outrem, recusar as opções que lhe são oferecidas estando consciente da sua atitude, mesmo que os grilhões da sociedade condicionem seus passos.
Vou mais longe, mesmo em casos limites, custando-lhe a própria vida ou o encaminha para situações de radicalismo, o Homem, pode sempre exercer a sua liberdade. Uma coisa é ter liberdade de acção e de movimentos, outra é ser livre.
Ao pensar assim, na minha opinião estou a exercer uma atitude de liberdade, porque a liberdade é uma atitude, um acto de consciência. Posso num certo momento, estar privado da minha liberdade de movimentos, mas tal não significa que eu não seja uma pessoa livre.
Que me condena, que me impõe as exigências, que limitam a minha liberdade, ou a minha própria forma de viver, não é de certeza mais livre do que eu, unicamente detêm poder.
O que acontece é que ao longo da história, a liberdade tem conhecido muitos adversários. Politicamente sempre fui respeitador das ideias dos outros, mas nunca perdi o meu direito de expressão, pessoalmente reconheço, que a liberdade de resposta, por vezes torna-me demasiadamente impulsivo, mas considero-me sempre um homem livre para apoiar, criticar, ou até sugerir.
Em suma, para completar este texto tenho como máxima, um conceito de um Professor Universitário, que proferia, “cada homem só é livre e responsável se o outro também o for, na mesma medida”.