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311 anos de fé em Vigia de Nazaré

ROBERTO BARBOSA
Segundo mais antigo do Brasil, primeiro realizado no Estado do Pará, o 311° Círio de Nossa Senhora de Nazaré, em Vigia, no Pará, se realizou no último domingo com o tema “Com Maria, Rainha da Amazônia, somos discípulos em comunhão”, reunindo centenas de milhares de fiéis que tomaram conta das ruas dessa cidade antiga, tradicional e tida como berço de cultura paraense, no nordeste do Estado, a 90 quilômetros de Belém. Neste ano, observou-se que houve uma queda no número de romeiros que chegaram à cidade para acompanhar a procissão. Para o povo vigiense, acontece que, sendo ano político, milhares de pessoas estão diretamente envolvidas às campanhas eleitorais e, por esse motivo, muitos deixaram de participar das festividades em honra a Nossa Senhora de Nazaré. Por outro lado, aconteceu ontem, em Belém, a Parada Gay, que também manteve muita gente na capital, diminuindo o fluxo de romeiros. Outros acusam a diretoria da festa de não ter feito grande divulgação do evento, o que teria motivado a evasão na procissão que, desde a trasladação, no sábado, 13, mostrou que não haveria grande número de participantes no Círio deste ano.
Contudo, a avaliação do bispo diocesano de Castanhal, Dom Carlos Verzeletti, é de que o Círio de Nazaré deste ano “foi tranqüilo, bonito, e reuniu todas as pessoas que, seguindo o exemplo de Nossa Senhora, buscam a salvação que está em Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem”.
SANTA MISSA
Às 7h, o pároco de Vigia de Nazaré, Padre Assis, concelebrou missa na Igreja de São Sebastião, no bairro do Arapiranga, onde se achavam presentes milhares de pessoas que queriam não apenas participar da celebração, como também, da grande romaria do Círio de Vigia, cem anos mais velho que o de Belém do Pará, onde ocorre a maior romaria do Ocidente.
Por volta das 08h30, a imagem da santa foi colocada na berlinda e assim, começou a procissão em meio a grande número de homenagem com queima de fogos por todos os cantos da cidade, por onde a imagem de Nossa Senhora iria passar. Como é de domínio público, Vigia de Nazaré é conhecida, também, pela fabricação artística de fogos de artifício, o que não falta na cidade. Onde se fala em fogos, em Vigia, isso não é problema.
O trajeto da procissão não sofreu mudanças. Por toda parte, a multidão ia aumentando, assim como, o número de promesseiros e romeiros que queriam segurar na corda que é erguida em volta da berlinda com a imagem da Mãe de Deus e da Igreja, à frente da qual estava o padre Assis, sempre usando da palavra para as reflexões da vida de Nossa Senhora com a vida dos fiéis que a cada ano acompanham a romaria a pedir bênçãos e graças, em geral alcançadas, tanto assim que há um grande número de objetos de cera, madeira e cerâmica entregues no dia do Círio na Igreja Matriz da cidade.
BANDAS
Cinco bandas de música, três da Vigia, uma de Salinópolis e outra de Castanhal, acompanharam todo o trajeto da procissão, a se revezar com hinos em honra à Virgem de Nazaré. Vigia se destaca, também, pela cultura musical e tem duas bandas tradicionais que já participaram, inclusive, de festivais internacionais. São elas as bandas musicais “31 de Agosto” e “União Vigiense”, que estiveram na romaria, assim como, na trasladação realizada no sábado à noite, quando a imagem da Santa foi conduzida, igualmente na berlinda, da Igreja Matriz até a Igreja de São Sebastião, no bairro do Arapiranga.
HOMENAGENS
Entre as dezenas de homenagens prestadas pelo povo vigiense à Nossa Senhora de Nazaré, com fogos, paradas obrigatórias em vários pontos da cidade, merece especial atenção o hino “Vós Sois o Lírio Mimoso” ao som de carimbo, executado harmonicamente por um grupo folclórico da cidade em frente à Igreja de Pedra do Senhor dos Passos, na orla marítima, onde a imagem ficou parada por cerca de dez minutos, quando centenas de fiéis bateram palmas, choraram e pediram graças.
Da Igreja de Pedra, ao final da homenagem, a berlinda seguiu seu trajeto até à Igreja Matriz, onde a imagem foi retirada por Dom Carlos Verzeletti, que celebrou a missa de encerramento para os romeiros.
TRADIÇÃO DO ALMOÇO
Assim como acontece em Belém, também em Vigia de Nazaré, a população prepara, carinhosamente, o almoço do Círio. Pato-no-tucupi, maniçoba, porco assado, churrasco, etc., fazem parte do cardápio. Do lar mais humilde ao mais rico, em toda parte, sempre é feito um almoço melhorado, afinal, a reunião da família é uma homenagem que o povo paraense sabe preparar ao seu modo (e como ninguém!) para Maria Santíssima e seu filho Jesus Cristo, que ela leva ao colo o tempo todo nas romarias que antecedem e sucedem o Círio todos nos anos na capital, em Vigia e em todas as partes do Estado.
Interessante, é que, assim como em Belém, para Vigia de Nazaré também convergem romeiros que levam sempre uma ajuda para incrementar a culinária do almoço do Círio. Pato, galinha, porco, carne bovina. Tudo é levado e partilhado entre as várias famílias que se reúnem para o almoço após a procissão realizada sob o sol escaldante de uma cidade do salgado paraense.
MUSICAS E FESTAS
Desde a sexta-feira do Círio, a animação já é uma marca na cidade. Carros com potentes sons, grupos de amigos bebendo, festas com aparelhagem sonoras. “Vigia é uma cidade muito animada. No Círio, então! Vem muita gente. Eles brincam, bebem, conversam. Mesmo assim, de manhã, estão parados pelas ruas, nem que seja só pra ver a passagem da Santa. Mas, eles estão aí e fazem parte do número de romeiros que acompanham a procissão”, comenta a professora Nazaré Sarmento, membro de tradicional família vigiense que, morando em Belém, todos os anos, faz questão de voltar à “terrinha para participar dessas maravilhosa festa de fé”.

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